Sete dias com Marilyn – Uma olhar psicanalítico sobre o filme.

Sete dias com Marilyn traz um recorte de vida, desta estrela hollywoodiana. Michelle Williams encarna Marilyn Monroe como uma diva insegura, que busca a todo o momento a confirmação de seu talento e que demonstra um invólucro psíquico, que chama a atenção, por sua superfície tão frágil.

Um olhar psicanalítico sobre Marilyn (interpretada por Michelle) desvela a possibilidade de uma incrível fragilidade emocional e personalidade dependente. Ela é possuidora de um séquito que a mima em cuidados e a protege de ser tocada, em sua fina superfície psíquica. Algo como se a protagonista pudesse romper-se, a menor brisa. A estrela busca e exige do “outro”, um olhar que confirme e a autorize a sua existência, enquanto uma celebridade. Diante desse olhar de admiração e veneração do “outro” ela se reconhece, e assim cola-se em uma transferência maciça de suas necessidades/sentimentos. Contudo, uma transferência intensa, mas transitória. O objeto de amor para Marilyn é aquele que a autoriza a ocupar o lugar de estrela e reconhecimento pela sua carreira. Em alguns momentos da narrativa, ela muda de objetos (alterna a intensidade de relações entre seus assistentes pessoais e empresário), mas sempre dirige a mesma estrutura relacional: intensa e momentânea.

Seu relacionamento com Colin Clark (Eddie Redmayne) ilustra um dos momentos de âncoramento transferencial de Marilyn. Ela encontra nele o olhar que a autoriza a sentir-se viva e segura. A forma com que a estrela transfere seus sentimentos aponta de forma característica para um possível perfil psicótico. Colin em seu relato auto-biográfico explicita nuances que caracterizam uma mulher, que a todo instante despenca em um abismo emocional. Vale lembrar que esse temperamento de Marilyn ilustra uma fase pré-Kennedy. O que aponta uma estrutura psíquica, que já vinha dando indícios de uma ruptura psíquica posterior.

A diva apresenta um humor que oscila a cada mudança de cena. Vemos a Marilyn sair de um abismo depressivo, para em seguida, uma euforia juvenil. Em seus momentos de queda emocional, ela elege uma pessoa com quem estabelece um protagonismo psíquico, que se assemelha muito a relação anaclítica dos Borderlines (Transtorno de personalidade limitrofe). Vários momentos causam a impressão, de que a estrela porta uma delicada e fina pele psíquica que a protege do mundo, tal qual um recém-nascido. Seus momentos de tensão fazem parecer que Marilyn irá desmanchar-se frente aos olhos, que a observam.

Outra nuance que se destaca no filme é o carisma da personalidade de Marilyn, que tanto é acionado para inspirar sexualmente seus seguidores, como os tornam protetores de suas excentricidades. Não se observa na personagem, uma aparente força de seu temperamento, mas seu ar desprotegido e faceiro torna-se uma forte arma de uma “doce manipulação”.

Enfim, a estrutura psíquica de Marilyn Monroe apresentada no filme, evolui em seu curso, junto à controvérsia de sua vida. Em alguns momentos transita na polaridade de seus humores, em outros caminha limítrofe, a flor da pele de suas fragilidades. Uma diva que em todo seu carisma enigmático, não consegue se resumir, nem aqui. Assim deixo minhas impressões para que instigue a reflexão, dessa personalidade envolvente que não se esgota, ao menos para mim.

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4 respostas para Sete dias com Marilyn – Uma olhar psicanalítico sobre o filme.

  1. Eu vi esse filme e só confirmei algumas coisas dela:a nulidade de sua existência,tão empobrecida no seu pensamento e capacidade de afeto,pois precisava antes de amar que alguém desesperadamente cuidasse dela,nem precisava ser amor,mas cuidar mesmo e aí usava de seus atributos físicos em troca.Fica a dúvida se é borderline,pela questão de não conseguir ser alguém sem o outro,com essa coisa toda manipulatória,mas por outro lado é tão pueril e histriônica,somatizando,com aquele crônico quadro de cólicas/endometriose(?) e outros sintomas físicos que a levaram à dependência de narcóticos pesados.Aliás a DEPENDÊNCIA é sua característica mais marcante:dependência de REMÉDIOS,de AMOR,de APROVAÇÃO DO PÚBLICO/MÍDIA…Acho que depois do filme mudei meu “diagnóstico” dela para personalidade dependente,seia mais adequado e engloba um pouco do border e do histrionismo.

    • Paula Muniz disse:

      Como sempre Valéria seus comentários são inspiradores. De fato a questão da dependência ficou bastante marcada para mim também. Acrescenta em muito suas considerações para que possamos esmiuçar mais, essa estrutura psíquica. No livro do Diogo Lara (Temperamento Forte ou bipolaridade) sugere Marilyn como tendo um perfil bipolar. Fiquei a procura desses aspectos no filme e embora encontrando alguns, não os senti, nesta narrativa, como sendo os nucleares do quadro dela. Para mim a dependência e a fragilidade psíquica foram os mais marcantes. Enfim..Algo para se pensar. Obrigada pela sua contribuição e leitura! Saudações!

  2. Infelizmente ela nem teve “competência “pra ser bipolar,antes fosse,lítio melhorava!!!Fragil como um castelo de areia e imatura como um bebê…

  3. Lohana Borges disse:

    Cara Amiga!!

    Achei muito interessante seu olhar sobre o filme, até para min que sou leiga no assunto (apesar de terem vários pscicologos ao meu redor e derredor) ficou fácil de entender e muito bem escrito!!
    Beijos!!

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